segunda-feira, 24 de maio de 2010

Olhos Azuis: estreia nacional em 28 de maio


Com o aumento da produção cinematográfica no Brasil, é natural que os diretores e produtores comecem a explorar caminhos diferentes dos já traçados. Ao invés de especular sobre violência, crianças abandonadas, tráfico de drogas e miséria, temas tão recorrentes em nossa cinematografia, José Joffily tira partido de outro assunto, não menos importante, que é a eterna soberania americana sobre a realidade brasileira.

Ao cruzar as histórias de Nonato, imigrante pernambucano e Marshall, chefe do departamento de Imigração do Aeroporto de JFK nos Eua, Joffily traça um paralelo escancarando o enorme abismo cultural entre as duas nações, jamais dito com tanta veracidade. Joffily apresenta este belo e feroz thriller com um maravilhoso compasso e ritmo raramente vistos em filmes brasileiros.

O filme é uma espécie de mea culpa expiatória e destila toda a ira, raiva e rancor que os imigrantes causam nos hipócritas americanos. Expondo a xenofobia escancaradamente, a câmera de Joffily atua como uma testemunha da queda de um império que sempre soube acolher os imigrantes de braços abertos e agora os rejeita, humilha e despreza.

Olhos Azuis é um filme que conta a história de um homem cego pelo seu próprio preconceito e arrogância, que o levam a cometer atitudes extremadas. Forçado por sua consciência, este homem busca sua redenção em uma terra distante da sua. Marshall começa sua jornada em Recife e, com ajuda de Bia, uma prostituta poliglota, cruzarão o estado de Pernambuco em busca de ajuda para salvar-se de uma culpa aflitiva.

Através de flashbacks, conhecemos as razões para a peregrinação desgostosa de Marshall, e nos tornamos testemunhas de suas verdadeiras convicções. O elenco internacional é outro trunfo da produção. David Rasche compõe um Marshall autêntico. Seu deboche e arrogância com os imigrantes chegam a nos irritar. Ele representa anos e anos de autoridade em fase de estado terminal. Bêbado, doente e atrevido ele representa o último grito de uma nação podre e decadente.

Irandhir Santos faz Nonato perfeito que, basicamente, é o pivô de toda a situação. Seu personagem torna presente a conformação secular de um Brasil subjugado pelo poder majoritário que, mesmo rebelando-se, acaba sendo reprimido. Cristina Lago interpreta Bia, a garota que ajuda Marshall em sua romaria. Cristina tem uma presença cativante e transforma seu personagem em algo além de uma simples prostituta abandonada. Ela acolhe o monstro carinhosamente e surge como a esperança da aversão de Marshall pelos estrangeiros.

Olhos Azuis é a comprovação que o cinema nacional esta se tornando amadurecido e adulto e sabe muito bem aonde que chegar. São filmes como este que sepultam de vez a incapacidade brasileira em fazer um cinema plenamente desenvolvido e, arrisco-me a dizer, muito melhor do que os norte americanos.

Fonte: www.cinemaemcena.com.br

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