sábado, 11 de dezembro de 2010

Entrevista Thais Asfora – Madamê Surtô




A grife pernambucana Madame Surtô, da estilista Thais Asfora, acredita que o que é bom e bonito, se torna elegante e atemporal. Moda é cultura, comportamento, história. Fazer moda, um exercício de amor. O objetivo é trabalhar com a beleza e o compromisso de criar condições para que se revele a beleza que existe em toda mulher.

Essa beleza caminha junto à modelagem das peças, propositadamente estudada para proporcionar conforto. São priorizados cortes que alonguem a silhueta, comprimentos que valorizem as pernas, “truques” que ajudam a mostrar uma figura harmoniosa.

As peças são feitas de materiais naturais, principalmente o algodão, e são divertidas, coloridas, de fácil manutenção e versatilidade no uso. Cada peça é trabalhada como uma verdadeira joia, usando bordados, recortes, aplicações, estampas, tudo sempre feito à mão, com carinho e dedicação. Segue abaixo uma entrevista que fiz com a Thais Asfora, por e-mail, para uma matéria publicada na Revista ClassCasa (outubro de 2010), da qual sou repórter.

Como a moda entrou em sua vida?
A moda entrou na minha vida como vocação. Sempre tive facilidade para o desenho e gostava de ler sobre o assunto. Naquele momento só havia dois caminhos: ser figurinista de loja ou jornalista, por isso cursei jornalismo, imaginando escrever um dia sobre o tema. No entanto, logo tomei gosto por ver minhas criações tomarem forma e desde então tenho trabalhado em confecção, seja para mim mesma ou criando para outras marcas.

Como criadora qual a sua linha de produção?
Continuo buscando informação nos vários meios disponíveis, mas a partir de um determinado momento, encerro a pesquisa e me recolho para ver o que ficou de tudo que foi visto. Procuro não me apegar às tendências, mas usá-las para atualizar um estilo que já é meu. Gosto de começar pelo material disponível. É difícil criar sem ver o tecido antes. Também gosto de misturar materiais, de preferência que tenham uma composição natural. Procuro dar dignidade ao algodão ao criar texturas e estampas para enriquecê-lo.

Como é o dia a dia pessoal de Thais Asfora em relação à moda?
Vivo meu dia em função da criação. Podem ser roupas, objetos, produções, enfim, tudo que diz respeito ao visual. Gosto da famosa frase de Oscar Wilde que diz que “só os tolos não ligam para a aparência”.

Quais as suas escolhas pessoais?
Quem faz moda não anda na moda. Escolho aquilo que me cai bem e como toda mulher, adoro o bom e velho preto. Conhecer meu tipo físico foi o primeiro passo para entender os outros tipos. Assim posso fazer uma espécie de ilusionismo ao esconder “defeitos” e ressaltar qualidades.

Qual foi sua escola criativa? Algum estilista específico?
Embora eu fosse uma criança nos anos 1960, foi nesse período, com toda sua efervescência de criadores e criaturas, que formei minha percepção de moda. Estamos falando de Yves Saint Laurent, o futurismo de Paco Rabane, Bárbara Hulanicki e sua boutique Biba, a geometria de Courrèges. Eles abriram caminho para o prêt-a-porter e a moda como a conhecemos hoje. Embora as informações demorassem muito para chegar aqui, isso faz parte do meu imaginário e é a base do que eu sou hoje como profissional de moda.

Como é a sua rotina de trabalho?
Como eu falei, vivo em função de criar. Desenho praticamente todos os dias. Durante muitos anos, tentei seguir o calendário oficial, com duas grandes coleções por ano. Mas aprendi que esse modelo não funciona para empresas de pequeno porte, pois exige um capital de giro muito alto para financiar o espaço de tempo entre o lançamento e o faturamento. Estou mudando o modelo para pequenas coleções, independentemente desse calendário.

Hoje a Madame Surtô pode ser encontrada em quais locais?
Como diz o dito popular, santo de casa não faz milagre. Nossa marca é mais conhecida no Sul e Sudeste, especialmente em São Paulo e Minas Gerais. Eles adoram o nosso trabalho, recebemos dezenas de e-mails que confirmam isso. Atualmente, em Recife, penas a loja Avesso, de Cris Pontual, tem Madame Surtô. Ela tem uma clientela bastante fiel, mas que às vezes se surpreende ao saber que a Madame é pernambucana.

Como a cultura de Pernambuco influencia a sua moda?
A influência existe, é claro, mas de maneira bem intuitiva. Talvez possa falar da forma imprevisível e única de misturar e usar elementos. Evito ao máximo referências muito diretas. Mas acredito que por fazer moda num estado e numa região que não produz matéria prima de excelência, somos forçados a ser mais criativos usando os poucos recursos disponíveis. Um bom exemplo é o caboclo de lança, que reúne a aspereza de uma “alpercata” de couro, passa por um arco-íris de cores e brilhos e termina na poesia de uma flor na boca, sem esquecer a contemporaneidade dos óculos Ray Ban.

Qual o panorama você faz da moda pernambucana como indústria e mercado?
Em minha opinião tudo está por ser feito, assim como na época que comecei. Existem muitos talentos, mas por falta de suporte são efêmeros e rapidamente esquecidos. Os que resistem são frutos de enorme esforço individual e que continuam por teimosia e auto-sacrifício. Não há uma direção, uma identidade. Hoje, Pernambuco é conhecido pela moda do Agreste. O que é feito lá representa o nosso Estado nas feiras e eventos do setor. São eles os beneficiados pelos incentivos e programas do governo. Reconheço e valorizo o impacto econômico e social que essa indústria gera, e não quero nem posso desmerecer esse trabalho, mas é um enorme peso para nós carregar esse conceito como sendo o de moda pernambucana. Ainda cabe a pergunta: quem somos nós e onde queremos chegar?

2 comentários:

  1. Qual endereço, instagran ou outro local onde posso encontrar produtos a venda. Em Aracaju, a loja que vendia fechou.

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  2. Qual endereço, instagran ou outro local onde posso encontrar produtos a venda. Em Aracaju, a loja que vendia fechou.

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