segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Entrevista - Vivian Whiteman


O mercado de moda no Brasil tem se mostrado cada vez mais promissor. Não só os estilistas e as marcas nacionais ganham cada vez mais força, relevância e visibilidade no mercado internacional, como as grifes estrangeiras possuem mais interesse no país. Em 2008, havia cerca de 20 marcas internacionais no Brasil. Para os próximos cinco anos, a previsão é que mais de 50 grifes abram lojas no país. “Estamos passando agora por um novo movimento de moda no Brasil que é a chegada de diversas grifes estrangeiras aqui”, afirma a Vivian Whiteman, editora de moda do jornal Folha de São Paulo.

Dessa forma, com o desenvolvimento cada vez maior do setor, o jornalismo de moda também cresce na mesma escala. Porém, para Vivian, a cobertura de moda no Brasil ainda está em desenvolvimento. “Mas tem evoluído bastante. Até pela profissionalização dos jornalistas, mas ainda tem um bom caminho”, afirma. A editora acredita também que hoje a cobertura não se resume mais apenas às semanas de moda e que, aos poucos, incorpora-se ao noticiário como um todo. “É natural e necessário que durante os grandes eventos as atenções todas se voltem para isso porque é um ápice. Mas temos que trabalhar em várias frentes. As semanas de moda são sempre importantes, mas tem que estar atento na moda de rua, na cultura jovem, na música”, analisa.

Como você avalia a cobertura de moda no Brasil?
Eu acho que é bem irregular. Temos veículos muito comprometidos com a cobertura de fato, que querem analisar moda, entender e explicar como funciona o mercado e a parte criativa. Por outro lado, temos ainda uma grande parte de veículos em que o conteúdo é muito submisso à parte comercial, ou seja, algumas revistas são catálogos, todo conteúdo é pautado pelos anunciantes e acho que compromete bastante a análise e a escolha do conteúdo. Tudo é muito pautado em valores e histórias que são o dinheiro e não a visão de uma editora, de um repórter de moda que entende a capacidade de expressão que a moda tem.

Acredita que o trabalho dos jornalistas nessa área vai melhorar?
Com certeza. Acho que tem que melhorar. Acho que tem dar um caráter bem mais profissional, parar de achar que moda é coisa fútil, que é bobagem, que é brincadeira. Não é. Hoje, talvez a moda seja uma das coisas que mais influencia o comportamento das pessoas do mundo inteiro.

Há muitos estereótipos na área do jornalismo de moda?
Tem sim. Tanto do próprio jornalista em relação a ele mesmo, quanto das pessoas que de fora que acham que o jornalista de moda vive em festas, que é puro luxo e glamour, que ele só encontra gente importante em festas maravilhosas e isso é uma mentira absurda. Há um trabalho exaustivo e precisa esclarecer melhor isso. Mas existem jornalistas que tentam imprimir isso na vida deles. O modelo que vem de fora são de jornalistas e editoras de moda que são tratadas como celebridades. Agem como celebridades e são fotografadas como celebridades e causa essa confusão. Essas grandes editoras estrangeiras têm muita exposição, estão na TV o tempo todo, no jornal, e elas não ficam no papel apenas de transmitir notícias. Elas são notícias e isso chega aqui muito forte. Como elas têm status de uma pessoa de Hollywood, de alguém famoso da área de música, andam com vários seguranças, promovem festas gigantescas…elas têm uma vida que batem com o estereótipo.

O jornalismo de moda no Brasil já tem a própria identidade ou ainda segue muito o que é feito no exterior?
Eu acho que está, aos poucos, construindo essa identidade. Até porque a moda organizada no Brasil existe há pouco tempo. A SPFW tem 10 anos. Antes disso, até tivemos algumas outras iniciativas, mas é pouco. É difícil, mas hoje as pessoas já sabem, tem orgulho de comprar uma marca brasileira, temos grifes que competem com qualquer outra grife mundial. A imprensa seguiu isso. Antes a gente tinha uma era de costureiros como Clodovil e depois fomos pra os estilistas como o Marcelo Sommer, Alexandre Herchcovitch, marcas como Osklen e isso ajuda a falar mais de moda do Brasil. Mas editorial de moda tem muita coisa completamente copiada e colada de fora, o que é uma pena porque hoje temos profissionais brasileiros para fazer tudo. Stylists, fotógrafos, tudo para fazer uma coisa com a nossa cara.

Fonte: Ana Ignacio / Portal Imprensa

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