terça-feira, 14 de junho de 2011

São Paulo Fashion Week, 15 anos influenciando o jornalismo de moda brasileiro

O penteado era simples: altos e singelos rabos de cavalo. Apenas uma equipe era responsável pelo cabelo e maquiagem das magras e jovens modelos que caminhavam sobre as passarelas durante os poucos desfiles do dia. Após o primeiro, o penteado seria desfeito e os cabelos soltos seriam a moldura para os rostos das garotas que, em pouco tempo e sem descanso, já vestiam roupas de outro estilista.

Quinze anos depois, o cenário é bem diferente. Mais de 350 modelos por edição e cerca de 3 mil pessoas envolvidas na produção tornam possível o maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week. No início, uma pequena sala de imprensa abrigava seis computadores e não se falava muito sobre o evento.

Atualmente, cerca de 2,5 mil jornalistas de credenciam para cobrir cada uma das edições anuais do SPFW e a expressão da cobertura é enorme, assim como a movimentação econômica. Em 15 anos, foram R$ 300 milhões investidos diretamente no evento. O rebuliço – empresarial, econômico, de mídia e de público – do SPFW perde no Brasil, apenas para eventos esportivos e automobilísticos.

Responsável por mudanças em diversos setores, o SPFW influenciou muito também o jornalismo. A jornalista e diretora de comunicação e de relações corporativas do evento desde 2000, Graça Cabral, conta que desde o início, havia uma preocupação em trabalhar o evento com os jornalistas e tentar emplacar a semana de moda em diversas editorias, trabalhando pautas com diferentes análises, saindo dos suplementos femininos. “Hoje, acho que a gente preenche a grade inteira. Sempre tem algum tipo de matéria e de abordagem sobre o evento. Sempre faz parte da nossa intenção trabalhar a ampliação de pautas, ampliação de olhares da mídia”, diz.

Topo - A brasileira Gisele Bündchen há mais de dez anos
lidera a primeira posição entre as modelos mais bem
pagas of the world

De fato, hoje, o assunto é contemplado por diversos veículos e alguns priorizam boa parte de sua grade ao tema, realizando uma abordagem múltipla do assunto. Destacam-se os canais por assinatura GNT e Fashion TV Brasil – cuja programação se expande para além da moda, por meio de programas sobre comportamento, música, cultura urbana e outras formas de arte.

O SPFW mostrou que é possível colocar a moda em muitas pautas. Graça acredita que se encaixa até nos cadernos de tecnologia, “porque o evento está sempre falando de inovação. Ele tem esse caráter. A primeira pergunta que ela fez foi ‘por que não?’. Por que não fazer? É uma forma de pensar. Você tira os bloqueios, os limites, você abre fronteiras”, diz.

Essa ideia aventureira impregna a semana de moda. Ela foi pioneira, ousou em muitos quesitos, realizou desfiles em locais inusitados como o rio Tietê, trouxe exposições e música ao vivo para o evento, abrigou desfiles memoráveis como o do japonês Jum Nakao, que fez uma coleção inteira de roupas de papel, rasgadas no fim do desfile. “Eles são o palco e cada um foi mostrar a sua arte. Eles abriram uma estrada e essa estrada foi mostrada para todo mundo e chegou a todo mundo”, define Pedro Gorski, diretor de documentários da Spray Filmes (“SPFW, Identidade Brasileira e Cultura de Moda”, “Modelos que Surgiram / Desfilaram”, e “SPFW e Futuro”).

A julgar pelos 15 anos iniciais, os próximos 15 certamente trarão mais novidades e consolidarão todos os conceitos que o SPFW já levantou. “Acho que mudou o que se comunica, pois antes tinha essa intenção de transformar, mas é visível como conseguiu e como os editores e veículos passaram a ver essa relação. A transformação vem quando você consegue posicionar a moda de um modo diferente, como esse olhar mais amplo e pode trazer um posicionamento do país”, comemora Graça.
Fonte: Ana Ignacio (Revista Imprensa – maio de 2011)

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